(TDAH) Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
Algumas Observações sobre o TDAH (Transtorno de déficit de Atenção e Hiperatividade).
O TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) é um distúrbio neurobiológico crônico, considerado um distúrbio do neurodesenvolvimento e de causas genéticas que afeta de 8 a 11% de crianças em idade escolar e é duas vezes mais comum em meninos. Também conhecido pelas siglas, em inglês, ADD, ADHD e AD/HD. Embora existam teorias de que o TDAH não existe, ele é reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O TDAH é diagnosticado com forte embasamento científico em diversos países, em todos os continentes, de diversas etnias, culturas e condições socioeconômicas. O TDAH é classificado pelo CID-10 (código internacional de doenças) sob o CID F90.0/F90.1 e pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) sob o DSM 314.0/314.01.
Os genes parecem ter relevância, não pelo transtorno propriamente dito, mas por uma predisposição, pois se observa que em famílias de portadores do TDAH a presença de parentes também afetados é mais frequente que em famílias que não possuem membros com o mesmo transtorno, ou seja, sem recorrência familiar. Embora exista uma predisposição genética, vale lembrar que não existe um único gene responsável pelo TDAH e que a influência ambiental tem extrema relevância no transtorno, ou seja, o ambiente onde o portador está inserido tem grande influência.
O TDAH costuma “aparecer” na infância, geralmente no início da vida escolar e acompanha o indivíduo por toda sua vida. As implicações são amplas e de cunho pessoal, social, acadêmico e profissional. O TDAH pode afetar a memória, a atenção, a percepção, a linguagem e implicar na cognição. Caracterizando-se, todavia, por uma combinação de dois grupos muito significativos de sintomas que acabam sendo a expressão maior do transtorno, sendo do primeiro grupo a Desatenção e o segundo grupo a Hiperatividade e Impulsividade.
Do primeiro grupo em que se caracterizam os sintomas de Desatenção, costuma ocorrer com muita frequência que o indivíduo cometa muitos erros por não prestar atenção a detalhes necessários às atividades que exerce, ou não prestar atenção aos assuntos em que está envolvido; Não conseguir se concentrar em jogos, brincadeiras ou atividades profissionais, logo, sempre deixa uma tarefa ou afazer por terminar, isso implica ainda na dificuldade de organização e planejamento desde tarefas mais corriqueiras a compromissos de maior importância. Também é muito costumeiro a perda de objetos e esquecimento de compromissos diários, ou ainda, não se lembrar do conteúdo de assuntos anteriormente debatidos ou de um artigo que acabara de ler.
Quanto ao segundo grupo em que se caracterizam os sintomas de Hiperatividade e Impulsividade é fácil perceber que o indivíduo não consegue ficar quieto por muito tempo, que está o tempo todo mexendo pés e mãos, levantando e andando de um lado para o outro. Extrema dificuldade de sossegar e relaxar mesmo quando se tem um tempo livre, dificuldades de esperar por muito tempo em filas ou uma grande inquietude em aguardar o farol abrir no trânsito. O indivíduo parece estar sempre elétrico e com pressa, como quem está para perder o trem que já vai partir. Outro fator facilmente notado é que o portador de TDAH tem serias dificuldades de aguardar que uma pergunta seja concluída para, só então, poder respondê-la e costumeiramente interrompe seu interlocutor. A impaciência é característica marcante e observada em todos os portadores de TDAH, não nos esqueçamos, porém, que a impaciência também é característica marcante no (TAG) Transtorno de Ansiedade Generalizada.
Outros sintomas mais genéricos no TDAH são, por exemplo, o adiantamento de afazeres que, por serem prematuros, ou seja, por não oferecem resultados à vista, acabam sendo abandonados no meio do caminho. Também se costuma mudar de interesse o tempo todo com um considerado grau de intolerância a situações monótonas e dificuldades de planejamento a médio e longo prazo. E não posso de deixar de citar as corriqueiras variações de humor, baixa tolerância a frustrações, distúrbios do sono, um certo grau de disforia, elevado grau de indecisão e relevante deficiência em habilidades sociais.
É digno de nota que tais sintomas também podem estar presentes em outros transtornos. O (TDM) Transtorno de Depressão Maior, por exemplo, pode causar dificuldades de memória e procrastinação. O (TAG) Transtorno de Ansiedade Generalizada causa muita inquietude. Outros transtornos como (TAB) Transtorno Afetivo Bipolar também pode confundir um diagnóstico preciso para TDAH. Por isso é necessário um diagnóstico cuidadoso, um diagnóstico elaborado por especialistas, a fim de se evitar um falso diagnóstico.
O TDAH ainda pode vir acompanhado de outros transtornos, além dos transtornos já citados acima, é comum que o indivíduo apresente comorbidade, ou seja, uma coexistência com o transtorno primário. O DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) aponta que em quase metade dos portadores de TDAH, principalmente meninos, ocorre comorbidade com (TC) Transtorno de conduta. O Transtorno de Conduta é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns na infância, sendo motivo de encaminhamento a psiquiatras e psicólogos que lidam com crianças e adolescentes. O TC, geralmente, está ligado a disfunções familiares, a exemplo, métodos incoerentes de educação, negligência, violência, brigas, dependência química, ausência de amor e de afetos entre os membros da família, entre outros, além, obviamente, a consequência de um TDAH não diagnosticado e, assim, não tratado. A criança acometida pelo transtorno de conduta costuma emitir comportamentos antissociais persistentes, tais como pequenos roubos e furtos, mentiras, agressões, maus-tratos a animais, violação de propriedade, etc. O TC quando em comorbidade com o TDAH torna a vida da criança e de seus familiares ainda mais difícil. Ainda outros transtornos costumam aparecer em comorbidade com o TDAH, como o (TOC) Transtorno Obsessivo Compulsivo e o (TOD) Transtorno Opositor Desafiante.
Outra comorbidade bastante comum com o TDAH, embora muito pouco discutida, é a (EN) Enurese Noturna, ou seja, a perda urinária que acontece durante o sono. Estima-se uma prevalência quatro vezes maior em pacientes com (DTUI) Disfunção no Trato Urinário Inferior em relação a pacientes com o TDAH. A enurese noturna em crianças tem alta taxa de comorbidade com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Numa população pediátrica enurética a relação com o TDAH é de 22,5%, enquanto numa população pediátrica geral a prevalência com o TDAH é de 2 a 5%. Também é apontado forte associação entre alterações na atividade do (SNC) Sistema Nervoso Central em diferentes causas de EN em pacientes com TDAH; Alterações funcionais em áreas cerebrais como a ínsula, o córtex cingulado anterior e córtex pré-frontal que são responsáveis pelo controle da bexiga, têm forte associação ao TDAH e a DTUI.
Na vida adulta, tanto as diferenças neurofisiológicas e, da mesma forma, os sintomas comportamentais e suas consequências continuam presentes em mais da metade dos casos, mesmo que os sintomas tenham sido diagnosticados e tratados ainda na infância, na vida adulta persistem a dificuldade de concentração, o comprometimento da função executiva, as oscilações de humor, a impaciência e a impulsividade. Isso tudo eleva a tendência de um adulto portador do TDAH a ter maior risco de desemprego, menor realização educacional e maior envolvimento no uso de substâncias tóxicas e com a criminalidade. Todavia, o TDAH é mais difícil de ser diagnosticado já na vida adulta, pois seus sintomas são facilmente, como já citado, confundidos com outros transtornos psíquicos. Devemos considerar, ainda, que devido à crença que o TDAH é um transtorno que acomete apenas crianças, o diagnóstico em adultos quase sempre é confundido com outras psicopatologias.
Em relação ao tratamento, os mais indicado é a união entre fármacos e psicoterapia, sendo o fármaco mais utilizado o Cloridrato de Metilfenidato (Ritalina), já em relação à psicoterapia, costumeiramente indica-se a TCC Terapia Cognitiva Comportamental. Psicoterapias alicerçadas na Psicanálise também se despontam como significativas no enfrentamento dos sintomas e das consequências do TDAH na vida de seus portadores.
Quero finalizar este singelo texto citando Morris L. Bigge. “Toda criança é como todas as outras, como algumas crianças e como nenhuma outra criança.”
Adão Zambelli de Carvalho.
Psicólogo.
CRP: 06/160959.
(16) 9 9730-7744.
REFERÊNCIAS:
BIGGE, Morris L. Teoria da Aprendizagem para Professores. São Paulo: Edusp. 1977.
DSM-IV-TR. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Tradução Cláudia Dorneles; 4ª edição revisada. Porto Alegre: Artmed, 2002.
GONTARD, Alexandre V. et Al (2010). Fatores associados à baixa e alta frequência miccional em crianças com incontinência urinária diurna. BJU International. 2010. Disponível em: https://bjui-journals.onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/j.1464-410X.2009.0780.x
MARCIANO, Renata C. et al (2016). Transtornos mentais em crianças e adolescentes com disfunção do trato urinário inferior. Brazilian Journal of Nephrology. 2016. Disponível em: https://www.bjnephrology.org/article/transtornos-mentais-em-criancas-e-adolescentes-com-disfuncao-do-trato-urinario-inferior. Acesso em: 27, janeiro de 2023.
MATTOS, Paulo. No mundo da Lua: Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade TDAH. 13ª edição ampliada e revisada. Associação do Déficit de Atenção, 2013.
SALINE, Sharon. TDAH: tudo o que seu filho com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade quer que você saiba. São Paulo: Buzz, 2021.
SILVA, Ana Beatriz B. Mentes Inquietas TDAH: Desatenção, Hiperatividade e Impulsividade. 4ª Edição. São Paulo: Globo, 2014.